"Qual é a ferramenta utilizada nesta prática?
É uma “escuta” profunda, sem interferências mentais. Graças a esta escuta, as camadas subtis e paralisadas da energia do corpo podem abrir-se. Ao trabalhar através da escuta, sem qualquer desejo ou objetivo a atingir, o corpo reencontra o seu estado original de leveza, de expansão, de transparência e de harmonização natural da energia.
Ao trabalhar com o corpo dilatado, a mente dilata-se. O corpo-mente dilatado é o limiar da nossa realidade, a consciência sem objeto. No início parece que a ênfase está no corpo, mas no final a ênfase está na própria escuta - que é a receptividade, a abertura, a nossa natureza verdadeira na qual o corpo e a mente existem.
O que é que quer dizer com “sensação corporal”?
Aquilo a que chamamos corpo é apenas um invólucro no qual vive um corpo subtil. Este corpo interior é uma energia subtil, a força vital que sustenta o corpo físico. Toda a nossa sensibilidade depende desta força vital.
De uma maneira paradoxal, embora o corpo subtil resida no corpo físico, ele irradia para além dele e encontra o ambiente. Desta forma, o corpo no seu conjunto tem uma extensão muito maior do que geralmente se pensa. À medida que o corpo físico se torna cada vez mais condicionado pelo esforço ao longo da vida, transforma-se num nó de tensões e contracções que paralisa a expressão do corpo subtil. A sua radiância é impedida e o corpo físico fica isolado do seu ambiente. Quando esta força vital é obstruída, verifica-se um envelhecimento prematuro do corpo físico, que se manifesta primeiro por uma diminuição da sensibilidade e da energia. Num corpo natural saudável, todas as células estão impregnadas de vida.
A nossa prática consiste, portanto, em fazer com que a energia do corpo volte a exprimir-se plenamente, tal como era na primeira infância. Ao tomar consciência deste facto, o corpo reencontra o seu pleno funcionamento.
Assim, a primeira coisa que fazemos no nosso trabalho corporal é despertar o corpo energético, torná-lo um objeto de consciência. Esta energia é sentida, é uma sensação. É a isto que chamo sensação corporal. Quando a sensação de energia está plenamente viva, provoca uma modificação da estrutura física. Todas as outras tentativas de mudar o corpo vêm da vontade, da mente, e são uma violência. Em todo o movimento, é o corpo energético, o corpo vital, que move e impulsiona o corpo físico.
A ênfase no nosso ensino a este nível não está, portanto, na postura ou na estrutura física, mas nesta sensação corporal. Quando o corpo vital é despertado, toda a estrutura muscular é relaxada e dá-se uma reorganização da energia. Cada sentido já não está limitado ao seu órgão físico, mas estende-se a todo o corpo. Nesta sensação global, todos os sentidos participam. Estar em expansão leva-nos automaticamente para além da ideia de sermos uma entidade separada. O trabalho corporal é uma forma de nos levar à união com todos os seres."
Jean Klein
Jean Klein
